O Jornal Diário do Alto Vale entrevistou produtores de cebola, beterraba e tabaco, que falaram sobre os desafios das atividades agrícolas ao longo dos anos.
Reportagem: Rafaela Correa/DAV
Através das redes sociais, agricultores da região do Alto Vale chamam a atenção para os valores pagos por safras de diversas culturas. De acordo com os produtores, o custo de produção está cada vez mais alto e os valores de mercado mais baixos, impactando diretamente no dia a dia das famílias, cujo sustento depende disso.
Jelson Gesser é produtor rural, vice-presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cebola e reside em Aurora. Ele fala da desvalorização das atividades agrícolas e ressalta a dificuldade no setor de hortifruti. “A gente é agricultor familiar. Cultivo junto com a minha família na nossa propriedade, a cebola. O motivo da minha postagem, é tentar abrir os olhos da sociedade para a situação que o agricultor enfrenta, principalmente o produtor de hortifruti, que trabalha com muitos riscos. A gente sofre há anos pela desvalorização da classe agrícola, porque demanda alto investimento, tecnologia, muita mão de obra que encarece o custo de produção e vendemos o produto por centavos. Há anos, desde o começo do plano real a gente vendia a cebola no preço que está hoje, R$0,80 o quilo. Muitos anos se passaram e vendemos pelo mesmo preço, sem contar que na época o custo de produção era bem menor e hoje temos um custo muito maior, exigências de mercado para entregar um bom produto. Fazemos um alto e investimento e no fim das contas parece que só sobram as dívidas, porque no final das contas o produto não tem valor”, desabafa.
Jelson ainda comenta que apesar de algumas safras serem melhores devido ao mercado, depender disso é preocupante, uma vez que o sustento das famílias vem do resultado da safra. ” Ficamos aborrecidos porque estamos à mercê de infinitas variáveis, como clima e câmbio internacional. Os insumos da produção dependem disso, e somos obrigados a entregar a produção pelo preço que é o mercado que faz. A gente espera profundamente que isso possa ser visto pelos nossos governantes, para que possam conversar com representantes e buscar soluções para o setor agrícola, principalmente o setor hortifruti. Esperamos que a gente possa estimular a produção reduzindo custos. Talvez esse preço, se tivesse um custo menor de produção não seria tão ruim. Quem está no poder precisa discutir para que a gente não passe por dias assim. É triste, decepcionante trabalhar o ano inteiro com a família e no final entregar por um preço muito inferior ao custo de produção”, finaliza.
Álvaro Antônio Correa é de Chapadão do Lageado e em sua lavoura já plantou fumo, cebola, feijão, milho e soja. Recentemente investiu no plantio da beterraba e aí veio um grande prejuízo. “É uma cultura que a gente precisa desembolsar muito, insumos caros, mão de obra difícil e cara também. Esse ano, estão pagando R$0,40 o quilo da beterraba e não paga o que foi investido. Fica o sentimento de impotência e insatisfação. Isso porque até chegar ao consumidor o preço muda muito. São esses fatores de comercialização, atravessadores, mercado que torna ruim para todo mundo. Os produtores que sustentam esse mercado deveriam ser mais valorizados. Esperamos que os nossos representantes olhem pelos agricultores e busque ajudar a manter essa produção no país. “, ressalta.
Produtores de Tabaco
Em Chapadão do Lageado, na localidade de Figueiredo, os fumicultores, Fabio Schlichting e Tania Vandresen Schlichting, falam sobre a safra 2024/2025 com entusiasmo. “Plantamos 249 mil pés em três remessas. Pagamos peões para nos ajudar na safra, o que ficou mais caro foi a lenha. A expectativa é conseguir vender bem, e em comparação com outras culturas que estão de arrasto, por aqui, o fumo deve ter uma boa saída. Apesar de termos enfrentado problemas com a murcha-bacteriana, conseguimos colher na hora certa e vai render em peso e qualidade de classe, então será uma boa safra, e alguns até falam sobre superprodução, mas não enxergamos assim porque o mercado não está super abastecido, viemos de dois anos com pouca produção”, relata Tânia.
Ela ainda lembra que o fato da cotação do dólar estar alta pode ser bom para a comercialização da safra, mas pode encarecer os insumos da próxima. ” O medo é esse. Embora a gente venda bem este ano, a próxima pode ficar difícil”, acrescenta.

Representação dos produtores e BAT assinam acordo
De acordo com assessoria de comunicação da Associação dos Fumicultores do Brasil, a comissão representativa dos fumicultores acordou com a BAT um reajuste, linear, de 10,55% no Virgínia e 7,01% no Burley, para a safra de tabaco 2024/2025, o que significa a reposição da variação do custo de produção. Com isso, a BAT passa a operar com o valor de R$ 23,30 kg na classe BO1 do Virginia e R$ 20,55 kg na classe B1 do Burley, mantendo uma tabela com rentabilidade para seu produtor integrado.
O acordo foi negociado na tarde de hoje, 3 de fevereiro, durante mais uma rodada de negociação de preço do tabaco. Para a comissão, trata-se de um momento satisfatório. “Essa assinatura de protocolo com a BAT nos mostra que a empresa leva em consideração a valorização do produtor e a manutenção do sistema integrado”.
Apesar de uma extensa agenda programada, além da BAT, ainda compareceram a Universal Leaf, Alliance One, China Brasil e a Philip Morris, porém, não houve consenso nas propostas.
Por parte da comissão, espera-se o retorno das empresas que ficaram de analisar as contrapropostas e das demais que queiram revisar seus índices. Além disso, a representação dos produtores deixa claro que, tabela não acordada com a comissão não será reconhecida, por descumprimento da Lei de Integração.
A comissão representativa dos produtores de tabaco é formada pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e pelas Federações da Agricultura (Farsul, Faesc e Faep) e dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep) do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
