De aprendiz na infância a criadora de peças exclusivas, Marli Rosa Fachini compartilha sua trajetória de amor pelo crochê e como essa arte manual se tornou uma forma de expressão e conexão familiar.

Reportagem: Rafaela Correa/DAV

O crochê, na delicadeza de suas linhas e agulhas carrega marcas da história e transforma pontos em arte. Para muitas pessoas, o crochê é mais do que um hobby, é uma paixão, que carrega além de lembranças, uma herança familiar que transforma fios em peças cheias de beleza, exclusividade e significado.

Marli Rosa Fachini é uma moradora de Ituporanga apaixonada por crochê. Suas peças estão ganhando espaço nas redes sociais, principalmente depois de confeccionar o vestido de noiva da filha. Ela explica que desde pequena, aos seis anos de idade, se interessou pela atividade manual e que aprendeu com a sua avó os primeiros pontos. “Sou uma apaixonada pelo crochê. Comecei a fazer quando era novinha. Eu passava as férias na casa da minha avó que morava no interior e era uma crocheteira de mão cheia. Naquele tempo nem existia linha grossa, ela trabalhava com uma linha fina e só fazia toalhas de banquete, porque eram grandes e fazia para mulheres gostavam de renda. Eu via ela fazendo e queria até a agulha dela para fazer. Então ela começou a me ensinar, arrumou linha para mim e começou a ensinar fazer correntinha, mas foi só o que ela me ensinou. Ela dizia que eu precisava trabalhar bem as mãos, deixar leve, solta. Eu fazia metros e metros de correntinha e depois desmanchava para aproveitar a linha e fazer de novo”, relembra.

Marli foi crescendo e pouco tempo depois, o crochê deixou de ser um desejo e possou a ser um talento. Com apenas oito anos de idade, suas bonecas já usavam roupas feitas por ela.” Com oito anos, aproximadamente, eu ganhei uma agulha e comecei a fazer roupinhas de boneca. Na minha rua tinham muitas crianças e as meninas ficavam apaixonadas pelas peças que eu fazia de crochê. Elas faziam roupas com retalhos que ganhavam das costureiras da rua e eu fazia de crochê. Com uns 10 anos comecei a fazer almofadas e com o passar dos anos fui aperfeiçoando, criando, porque não existia revista com modelos de roupa, então eu criava”, comenta.

Apesar de seu interesse pelo crochê, essa não era uma atividade do qual dependia para viver, por isso outras prioridades tomaram boa parte do seu tempo. Ainda assim, a crocheteira continuou desenvolvendo peças, como sousplat e toalhas e aprendendo novas técnicas para a confecção de peças de roupas, que é o que mais gosta de fazer. “Eu gosto mesmo é de fazer vestuário. Comecei a fazer para a minha filha, que gosta muito de crochê. Nossos gostos se complementam”.

E como a vida prega peças em todos, há alguns anos, Marli foi diagnosticada com câncer de mama, e em meio ao tratamento, o crochê foi um apoio. “Minha filha tinha pedido para eu fazer o vestido de casamento dela. Quando recebi o diagnóstico, meus filhos cuidaram de tudo, segui todo o tratamento e como fiquei bem logo, ela voltou a falar que queria que eu fizesse o vestido. Ela desenhou o vestido e disse que só casaria se eu fizesse o vestido. Fiz alguns testes de pontos para ver o que ficava bom e durante o tratamento eu fiz o vestido dela. Eu achava muita responsabilidade, mas fiz e vesti o sonho dela, que ficou maravilhosa”, destaca.

Foto: Reprodução redes sociais/ Amábille Paola S. Fachini Darolt

Questionada sobre o que mais chama atenção no crochê, Marli fala sobre a liberdade para criar.

O crochê me encanta porque dá liberdade para criar, mudar, transformar. Essa liberdade eu dou muito valor. O crochê torna as peças exclusivas, porque mesmo que tenha uma inspiração, a gente não faz igual, mudam os pontos, modelos e gosto muito disso, de peças que me desafiem a pensar, criar. Quanto mais elaborado o modelo, mais atraída me sinto”, revela.

Para o futuro, Marli pretende focar em encomendas. ” Eu já vendi muitas peças e recebo muitas encomendas que não consigo atender porque ainda não estou organizada pra isso. Pretendo me organizar para fazer peças lindas e diferentes”, ressalta.

Crochê como forma de arte

Transformar linhas em pontos e pontos em grandes peças é uma arte. Além disso, para quem gosta pode ser uma forma de relaxar. Seja com peças tradicionais de cozinha ou vestidos cheios de personalidade , a habilidade manual é admirável. “Antes só se usava para panos de prato, toalhas e hoje chegou em um estágio de agradar, de moda mesmo. Tornar peças exclusivas. A arte tem o poder de mexer com a alma da gente e ter um olhar diferente para isso. Quando vejo alguém usando peça de crochê eu fico fascinada, é arte. Sem contar que quando a gente vê que as próprias mãos fizeram isso com uma agulha tão pequenininha, acho que é um dom de Deus, uma bênção”, finaliza.